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Review – Sniper Americano (2014)

Sniper Americano

American Sniper
Direção: Clint Eastwood
Elenco: Bradley Cooper, Sienna Miller, Kyle Gallner, Luke Grimes
E.U.A. 2014


Na nossa saga de assistir os filmes indicados às principais categorias do Oscar 2015 acabamos de conferir Sniper Americano (vai entender esse título, Sniper não tem uma tradução literal em português, mas por que não Atirador Americano ou manter American Sniper?)

Sniper Americano conta a história real de  Chris Kyle, o mais famoso atirador de elite dos Estados Unidos, um herói nacional, que oficialmente matou 165 pessoas nas suas quatro passagens pela guerra do Iraque (extraoficialmente teriam sido 255 mortes). O roteiro é baseado no livro escrito por Kyle junto de Scott McEwen e Jim DeFelice. 


Kyle era o típico texano que queria ser Cowboy, teve uma educação cristã rígida, onde o pai o ensinou a atirar desde pequeno, assim como deu lições do que é ser um herói e patriotismo. Ele entra para as operações especiais da Marinha dos Estados Unidos, os Navy Seals, onde encontra sua vocação: matar os inimigos e proteger seus companheiros

Sniper é, sem dúvida, o filme que vem causando mais polêmica e controvérsias entre todos os indicados ao Oscar. Uns criticam o discurso ideológico, patriótico e xenófobo do filme, mas dizem que cinematograficamente falando o filme vale a pena, outros dizem que independente do discurso, o filme é fraco, há até quem diga que o filme não é patriótico.

Bem, Clint Eastwood é, por si só, controverso. Embora republicano, portanto, defensor de ideias conservadoras do partido do Bush, já foi até prefeito da cidade de  Carmel-by-the-Sea, na Califórnia; ao mesmo tempo, ele é a favor da legalização do casamento gay, algo que o partido combate. Alguns consideram seus filmes ultranacionalistas, mas eu discordo. “Gran Torino”, por exemplo, foi acusado de inferiorizar a cultura do Laos perante a estadunidense. Mas, não vi dessa forma, o filme mostra como o velho soldado conservador e xenófobo vai mudando de ideia conforme convive com o menino imigrante. Além disso, Eastwood fez “Cartas de Iwo Jima”, que retratava o lado japonês na 2ª Guerra Mundial de modo heroico; por outro lado, na mesma época, fez “A Conquista da Honra” focando o lado estadunidense do conflito, não de modo ufanista, mas expondo mentiras e representações idealizadas dos “heróis” do combate, portanto, não era um filme patriótico.


Em Sniper Americano, porém, Eastwood deixou aflorar sim seu lado patriótico. Li comentários apontando que o filme é a desconstrução do herói, mas longe disso, Chris Kyle é representado como o herói que quer se sacrificar pela sua nação, ainda que morra e deixe sua família sozinha. Diferente de “Guerra ao Terror”, que apesar do que pode indicar o  título brasileiro ridículo, mostra como um soldado nem mesmo sabe pelo que está lutando e acaba viciado na adrenalina do conflito, sem conseguir se adequar a vida normal com a família, quando retorna; em Sniper Americano, o trauma que ele carrega quando regressa de vez do Iraque é não ter podido salvar mais companheiros soldados matado mais iraquianos, então o psicólogo diz a ele para fazer trabalho voluntário ajudando veteranos, e pronto, fim do trauma. Enquanto tentava ajudar, ele acaba morto por u veterano. Portanto, um herói até o fim, nenhum dos seus atos será questionado.

Outro problema é a xenofobia que permeia o filme. Pode-se argumentar que o filme apenas apresenta o contexto, o discurso xenófobo é proferido pelos personagens, que, óbvio, como soldados treinados e doutrinados para agirem assim, não seria diferente. No entanto,  a direção não se esforça para mostrar outra visão. Os iraquianos não só são chamados de selvagens, mas aparecem na tela dessa forma, enquanto os soldados dos E.U.A. são os heróis que vão libertar o povo e precisam se proteger dos animais. Não há uma ligação emocional diferente disso entre soldados e iraquianos. Todos os iraquianos que aparecem são ou estão envolvidos com os inimigos. Parte do começo e do fim do filme parece mesmo “O Orgulho da Nação”, como quem viu “Bastardos Inglórios” deve se lembrar.

Saindo da questão ideológica, afinal já vi filmes patrióticos que considerei bons como entretenimento; Sniper Americano é um dos filmes de guerra mais fracos que já vi e um dos piores de Clint Eastwood. É arrastado, as cenas de guerra não empolgam. Há quem ache que Eastwood fez um Western de guerra com destaque para o duelo com o atirador iraquiano. Porém, nem isso salva. Vi duelo nesse estilo muito melhor entre Jude Law e Ed Harris em “Círculo de Fogo” de Jean-Jacques Annaud, e muitos outros filmes tem cenas de guerra mais tensas,  como o já citado “Guerra ao Terror”, ou mesmo “O Resgate do Soldado Ryan”, por exemplo, que nem sou muito fã.

As cenas com a família também são modorrentas e com diálogos fracos entre Kyle e a esposa vivida por Sienna Miller, clichês simples. Bradley Cooper, indicado ao Oscar de melhor ator pelo papel de Kyle está ok e só. O que ele fez foi trabalhar um sotaque texano e ficar mais forte para assumir o papel, não acho que isso seja o suficiente para uma interpretação formidável, mas o Oscar geralmente não pensa assim.

Por fim o orçamento deve ter sido baixo, só que faltou criatividade para trabalhar nessas condições: a cena do bebê falso foi a cereja do bolo ou a mosca do cocô. Li que o bebê que faria a cena ficou doente e substituíram por um boneco, poderiam ter caprichado mais.


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DRÉ TINOCO

André Tinoco

Professor de Geografia, cinéfilo nas horas vagas 

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