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Cultura Pop A Rigor na Colab55

Review – Você Não Estava Aqui (2019)

Você Não Estava Aqui

Sorry we missed you
Direção; Ken Loach
Elenco: Kris Hitchen, Debbie Honeywood, Charlie Richmond, Katie Proctor, Ross Brewster.
Reino Unido, França e Bélgica, 2019.


Distribuído pela Vitrine Filmes, o novo filme do veterano e engajado diretor inglês Ken Loach, “Você Não Estava Aqui” estreia no Brasil hoje e eu conferi recentemente.

O filme concorreu à Palma de ouro em Cannes no ano passado, nas categorias de melhor filme e interpretação feminina, sendo derrotado por Parasita e Emily Beecham (Little Joe). Loach, de 83 anos, traz para seu cinema político, que nos deu obras como “Pão e Rosas” e “Terra e Liberdade”, as dificuldades que os trabalhadores moradores das periferias do capitalismo enfrentam para sobreviver hoje, tempos de “uberização”. É uma outra face do ultraliberalismo que vivemos e ele havia retratado também no seu filme anterior, “Eu, Daniel Blake”, só que naquele discutia os processos de reforma previdenciária que fazem com que idosos que trabalharam a vida inteira morram sem conseguir se aposentar.


Aqui, Rick Turner (Hitchen) é casado com Abbie (Honeywood), cuidadora de idosos, e tem dois filhos, o adolescente rebelde Henry (Richmond) e a mais nova e inteligente Liza Jane (Proctor). A família tenta sobreviver à conjuntura de crise financeira que levou às reformas econômicas que cada vez mais precarizam a vida da população, cortando direitos como as leis trabalhistas. Nessa era de “empreendedorismo”, de “seja seu próprio patrão”, Rick compra uma van e entra em um trabalho informal de entregador de aplicativo; logo percebe que a tão falada autonomia é uma mentira, na verdade se quiser ganhar o mínimo que a família precisa, ele fica refém de ao menos 14 horas de trabalho diário, praticamente sem tempo para comer e tendo que fazer xixi em uma garrafa ou perde o tempo de entrega da encomenda.


Tenho que dizer que “Você não estava aqui” é um dos raros casos de títulos em português que não são tradução literal e na minha opinião é melhor do que o original. Não que “Sorry we missed you”, um título mais sentimental, seja um título ruim, mas em português “Desculpe, sentimos sua falta”, não soaria tão bem. “Você não estava aqui” traz dois sentidos, um que é a frase que os entregadores deixam em um panfleto quando vão ao endereço e não há ninguém para receber a encomenda, e ao mesmo tempo representa os momentos da vida que Rick está perdendo com as longas jornadas de trabalho, o que coloca em risco a relação com filhos e esposa, embora seja necessário para a sobrevivência de todos.



Loach, como de costume, trabalha bem com o drama dos homens e mulheres comuns, mais precisamente do proletariado britânico, contando como poucos as mazelas da sociedade capitalista, sem cair no dramalhão. Com uma fotografia que usa do cinza, como em outros filmes de Loach, mas também usando tons com mais luzes em algumas cenas, como quando Rick leva sua filha Lisa com ele ao trabalho, uma das cenas mais belas do filme, inclusive destaque para a pequena Katie Proctor, que traz uma incrível maturidade. O filme mergulha não só em questões econômicas que afetam a família, mas questões humanas como adolescência e relacionamento. O elenco principal está muito bem, ninguém destoa.


Então, “Você não estava aqui” é uma obra que assim como “Parasita” e “Assuntos de Família”, através da vida de uma família, retratam a luta pela sobrevivência de populações pobres dentro de países desenvolvidos do globo, no caso Inglaterra, Coreia do Sul e Japão respectivamente, mas, são realidades próximas da maior parte da população de qualquer país. O tempo inteiro Rick ouve do encarregado da empresa, Malonie (Brewster) que o negócio é dele, ele tem autonomia, mas paga multa se faltar, mesmo que por doença ou problema com os filhos.

É a máxima da sociedade ultraneoliberal, tudo depende do indivíduo, se você aceitar não ter férias, não ter horário decente de almoço, seguro-desemprego, etc. tem emprego, se não aceita isso, não tem lugar para você, mas a decisão é sua, você tem liberdade para negociar, taokey?

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