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Review – Judas e o Messias Negro (2020)

Judas e o Messias Negro

Judas and the Black Messiah
Direção: Shaka King
Elenco: Daniel Kaluuya, Lakeith Stanfield, Jesse Plemons, Dominique Fishback, Ashton Sanders, Darell Britt-Gibson, Lil Rel Howery, Algee Smith, Martin Sheen.
EUA, 2021.


Judas e o Messias Negro, está indicado a seis estatuetas do Oscar, que são melhor filme, duas indicações a ator coadjuvante (Daniel Kaluuya e Lakeith Stanfield, quer dizer então que o filme não tem protagonista?), Melhor Roteiro Original, Melhor Fotografia e Melhor Canção Original para “Fight For You” de H.E.R. O filme conta uma parte importante da história do movimento dos Panteras Negras. Apesar de ser baseada em uma história real, que não é difícil saber o desfecho, para evitar problemas com qualquer desavisado, já digo que tem spoilers.


Kaluuya interpreta Fred Hampton que, com apenas 20 anos de idade, se tornou presidente da filial de Illinois do Partido dos Panteras Negras e vice-presidente do Nacional. Já Stanfield vive William O’Neal, um homem que após cometer alguns crimes foi pego pelo FBI e obrigado por eles, através do agente Roy Mitchell (Jesse Plemons), a se infiltrar nos Panteras Negras, se aproximar de Hampton para trazer diversas informações que levariam à prisões e até a tramar o assassinato do próprio.

Os Panteras Negras, que originalmente se denominavam Partido Pantera Negra para Autodefesa, trata-se de uma organização urbana socialista revolucionária de base marxista e maoista, fundada por Bobby Seale (que é um dos retratados em “Os 7 de Chicago”) e Huey Newton em outubro de 1966. A autodefesa era uma importante bandeira e forma de luta dos Panteras no enfrentamento do racismo, por direitos civis e pela autodeterminação do povo negro. Além disso, desenvolviam diversas ações, como café da manhã gratuito para crianças, clínicas médicas, serviços jurídicos e educação política.


O presidente Fred Hampton foi um dos mais importantes líderes do partido, um grande orador e ativista desde o ensino médio. Hampton se tornou alvo do FBI que, em plena Guerra Fria, caçava também inimigos internos, ou seja, pessoas e movimentos que desafiavam o status quo, incluindo os Panteras Negras, que combatiam o racismo das forças policiais e de toda a sociedade estadunidense, e não só o racismo, mas criticavam também toda a opressão capitalista. J. Edgar Hoover (Martin Sheen) dirigia o FBI e criou um programa chamado Cointelpro, com o objetivo de neutralizar qualquer forma atividades de organizações nacionalistas negras e outros grupos. Diversos líderes e ativistas foram vigiados sistematicamente, como Martin Luther King e Malcolm X. Em uma comunicação interna, Hoover usou exatamente a expressão “messias”, afirmando que deveria ser evitado o surgimento de messias negros que unificassem e fizessem expandir de vez o movimento militante nacionalista negro.


Fred sabia do poder da unidade multicultural e de classe e criou a Coalizão Arco-Íris, unindo forças com outros grupos representantes de povos oprimidos da cidade para lutar por igualdade e participação política. Aliás, é curioso, e muito bem-vindo, que um filme estadunidense não tenha mascarado as bases marxistas na constituição do Partido dos Panteras Negras. O filme é bem legítimo quanto aos discursos, ao ativismo revolucionário e a figura carismática de Hampton, sendo fiel aos fatos, mas sem soar panfletário; esse cuidado é muito importante em uma cinebiografia. Kaluuya está perfeito, assim como a reconstrução do período e do movimento dos Panteras.


Já o Judas do título é justamente O’Neal, também uma interpretação muito boa de Lakeith Stanfield. O filme mostra como O’Neal era alguém que buscava sobreviver cometendo crimes, não tinha muita consciência política, mas vivia toda a condição imposta a negros na sociedade. E, apesar de ir fazendo o que o FBI ordenava e buscar dinheiro em troca, seus conflitos internos só vão aumentando, pois ele cada vez mais percebe o quanto Hamptom e os Panteras estavam certos. Não deve ser por acaso o seu suicídio, muitas décadas mais tarde, apenas um dia depois de dar uma entrevista para um canal de TV, onde falou sobre todo o período em que foi informante do FBI.

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