Review – Moonlight: Sob A Luz do Luar (2016)
Moonlight: Sob A Luz do Luar
MoonlightDireção: Barry Jenkins.Elenco: Alex R. Hibbert, Ashton Sanders, Trevante Rhodes, Naomie Harris, Janelle Monáe, Jharrel Jerome, André Holland e Mahershala Ali.EUA, 2016
Moonlight, dirigido e roteirizado por Barry Jenkins, baseado na peça de Tarell Alvin McCraney, In Moonlight Black Boys Look Blue (Na luz do Luar, Todos os Garotos Negros Parecem Azuis) discute o que define o caráter e atitudes de uma pessoa: nascemos com um destino traçado ou é o mundo que nos cerca que nos molda? O filme é dividido em três atos, acompanhando três momentos do protagonista, nomeado de três formas diferentes em cada ato. O primeiro ato é sobre a infância de Little (Alex R. Hibbert); no segundo, a adolescência de Chiron (Ashton Sanders); por fim, o terceiro ato é sobre a vida adulta de Black (Trevante Rhodes).
Little é um menino que se sente diferente dos demais e não sabe porque. Ele é constantemente agredido por outras crianças. Na tentativa se se fazer invisível diante dos demais, ele permanece em silêncio, comportamento que vai prevalecer por boa parte de sua vida. Em uma de suas fugas, Little é encontrado por Juan (Mahershala Ali). Mostrando que na vida, não há “vilões” ou “mocinhos”, Juan é traficante, mas foge totalmente do estereótipo violento. À principio, o menino reage com desconfiança, diante do interesse do homem, mas aos poucos ele vão construindo uma amizade, que será o ponto de luz em meio aos problemas de Little, assim como Tereza (Janelle Monáe), esposa de Juan, que é sempre doce e compreensiva, o verdadeira antítese da mãe do menino, Paula (Naomie Harris). Aliás, uma curiosidade: na cena em que Juan ensina Little a nadar, foi real. Ali estava realmente ensinando o pequeno Hibbert.
Voltando a Paula, ela é uma personagem dividida. Se por um lado, ela parece realmente sincera quando demonstra alguma preocupação com filho, por outro, é abusiva, viciada em drogas e não êxita em, por exemplo, mandá-lo sair de casa, para que ela possa receber um namorado. O que ela sente pelo filho, acaba sendo mais um sentimento de posse, do que amor maternal. No fim das contas, Paula tem consciência de seus erros, mas prefere focar a raiva que tem de si mesma em Juan e Tereza, sempre com comentários maldosos a respeito destes, cheio de ciúmes.
Na adolescência, Chiron continua sendo perseguido, tido como “estranho” pelos outros, que acham que violência é prova de virilidade. Assim, como já acontecia em sua infância, sobram xingamentos de “veado” e etc. Além de sua relação com Tereza, os únicos momentos de paz de jovem, é com seu melhor amigo, Kevin (Jharrel Jerome). Entretanto, ainda se descobrindo e a sua sexualidade, Chiron se sente confuso em relação ao amigo, que aparentemente é seu oposto: popular, forte e seguro de sua heterossexualidade. Aparentemente. O que ocorre é que, ao contrário de Chiron, Kevin aprendeu a fingir para se proteger, saindo (ou dizendo sair) com meninas e sedendo a pressão de outros garotos para utilizar violência e provar ser um deles. Isso fica bastante claro quando os dois meninos estão conversando e Chiron questiona se Kevin chora, esse rapidamente afirma que “Não, só me dá vontade”. Afinal, eles vivem em uma selva, onde demonstrar sentimentos é sinal de fraqueza.
Vale destacar, que o filme também retrata como os negros vivem a parte, excluídos pelo resto da sociedade e como ninguém, seja escola ou assistência social, se importa com o que acontece a um garoto como Chiron, seja com relação a mãe negligente, seja com relação às inúmeras agressões sofrida. “Autoridades” só surgem quando Chiron decide que não seria mais humilhado e ataca o líder dos valentões da escola, sendo levado preso em seguida.
Adulto, Chiron se torna Black, traficante de drogas, assim como Juan. O personagem passou por uma mudança externa radical, que revela que a confusão de sentimentos da adolescência não existem mais. Ele agora sabe quem ele é. Contudo, escolhe seguir uma estratégia de sobrevivência não muito diferente da de Kevin, fingir ser outra pessoa. Corpo musculoso, conversas sobre “pegar” mulheres, dentadura de metal: em busca de respeito, ele criou um personagem.
No inicio do texto, escrevi que Little/ Chiron/ Black se sentia diferente. E ele é. Mas, não diferente porque é homossexual. Diferente, porque toda a violência externa não faz parte dele. Essa violência pode ter direcionado sua vida, mas não alterou sua essência tranquila. É o que vemos em seu reencontro com Kevin (agora vivido por André Holland). De inicio, a mudança física em Black, deixa-o perplexo, porém, ao poucos, ele percebe, e nós também, que Little/ Chiron ainda está por ali. Também percebemos que Kevin deixou os disfarces de lado. Este reencontro é cheio de tensão sexual e o único momento em que vemos o protagonista, sempre contido, externar o que sente.
O final, sem uma resolução, pode incomodar quem gosta de filmes com finais fechadinhos, aliás, vi alguns comentários sobre como o filme terminava “sem emoção”. Como todo o transcorrer da história, esse momento também é regido com sensibilidade e precisão por Barry Jenkins. Palavras não são necessárias para entender o turbilhão de emoções pelo qual os dois personagens estão passando. Saber o que acontecerá com ambo dali para frente é o que menos importa. O que importa é que esses personagens agora sabem quem são.
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