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Cultura Pop A Rigor na Colab55

Review - Quando o Tempo de Lembrar Bastou (2021)

Quando o Tempo de Lembrar Bastou

Direção: Felipe Quadra
Elenco:  Pedro José Ben, Gradstone Arantes e Nayara Tamarozi
Brasil, 2021


Um grande bloco de gelo derrete lentamente, pendurado no teto, sobre a cama de Henrique. As gotas escorrem pelo seu rosto, como lágrimas. O desaparecimento do bloco marca o momento do homem se despedir das lembranças.

Quando o Tempo de Lembrar Bastou, curta-metragem do diretor Felipe Quadra, acompanha os dias solitários de Henrique (Pedro José Ben). Ele perdeu sua esposa, Paula (Nayara Tamarozi), nas chuvas de 2011, na região serrana do Rio de Janeiro. O desastre é considerado a maior catástrofe climática brasileira, tendo deixado mais de 30 mil desalojados, além de 918 mortos e 99 desaparecidos.


A única visita que Henrique recebe, é de seu sogro, Egídio (Gradstone Arantes), que tenta convencê-lo a abandonar a casa condenada e seguir em frente com sua vida. No entanto, deixar a casa, significa deixar para trás também as lembranças de Paula. 

Com cores dessaturadas e longos silêncios, o filme consegue exprimir a melancolia do luto. Sentimento compartilhado por qualquer ser humano — afinal, em algum momento, sofreremos uma perda, seja um familiar, um amor, um amigo, um animal de estimação ou mesmo um emprego —, o luto também é um processo muito individual. Isso fica evidente na forma como Henrique e Egídio recordam Paula. 


Egídio prefere relembrar as histórias da infância da filha. A visão da casa vazia, de paredes trincadas, é fonte de tristeza, assim como a melancolia do genro. Já Henrique parece viver somente para lembrar, e o sítio é uma parte fundamental da manutenção dessas lembranças. 

O curta não explicita se Paula está entre os mortos ou desaparecidos da tragédia. De uma forma ou de outra, o luto de Henrique é também pelo futuro do jovem casal, pela família que eles formariam. 



Quando o Tempo de Lembrar Bastou não marca a passagem de tempo, de forma que não há como dizer por quanto dias, semanas ou meses, Henrique vagou pelo sítio, relembrando a amada, o que confere tons oníricos à narrativa. O protagonista vai, dessa forma, construindo seu memorial à esposa: uma árvore, na qual os frutos são livros e as antigas fotografias preto-e-branco, coloridas à giz de cera pela pequena Paula. Uma árvore de recordações.

O gelo derretido gotejando na face de Henrique marca a hora de deixar de lembrar. Mas, para onde vai o homem agora? Em frente, como tanto pede o sogro? Ou para baixo, soterrado pelas recordações do passado?




* Texto originalmente publicado no Talent Press 2021 (versão em inglês)


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