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Cultura Pop A Rigor na Colab55

Sobre Elle e o Medo do Estupro

Tô sumida, né, pessoas? Vida de proletária é assim mesmo. Mas, vim aqui pra falar de Elle, filmaço do grande Paul Verhoeven, estrelado pela maravilhosa Isabelle Huppert.

O Marc já fez uma resenha sobre o filme, que eu super concordo, portanto não farei outra. Acontece que Elle é um filme, como toda a filmografia do holandês, que suscita debates sobre várias questões, como religião, o modo como a imprensa explora tragédias, o tabu que é a sexualidade feminina pós-40 (na verdade, a sexualidade feminina de modo geral)… Mas um ponto que me chamou bastante a atenção no filme é como ele sintetiza um medo praticamente instintivo que acredito que todas as mulheres conheçam de algum modo: o medo do estupro.

Mas, vamos falar um pouquinho do filme antes. Em Elle, Isabelle Huppert é Michelle, que comanda uma empresa de criação de games. Ela é estuprada dentro de sua própria casa, por um homem mascarado. Além do estupro, Michelle está lidando com muita coisa naquele momento: o filho babacão que vai se casar com uma moça que ela não gosta; o ex-marido saindo com uma jovem; o caso que ela tem com o marido da melhor amiga, que ela sabe ser errado, mas não consegue por um fim; sua mãe saindo com um gigolô e, principalmente, a possível saída de seu pai, um assassino, da prisão.

Uma das coisas mais interessantes de Elle, é a caracterização de Michelle. Ela não é frágil, muito pelo contrário. Ela forte, determinada e passa longe de ser um tipo afável. E não estou dizendo que há algo errado em ser frágil. A questão é justamente que mesmo a mulher mais fodona pode se tornar vítima da misoginia. Aliás, outro dia li uma crítica do filme, que dizia que Michelle é estuprada, mas “não fica se fazendo de vítima”. Sim, ela não se faz de vítima, ela É uma vítima. Por mais que ela tente agir com naturalidade, como se não tivesse acontecido nada demais, o sofrimento está lá, e surge principalmente quando ela fica sozinha, como quando encara o chão fixamente, relembrando o estupro ocorrido ali, tendo a companhia apenas de seu gato. Ser vítima, não significa ser fraca.

Aliás, essa ideia de que ser vítima, admitir estar passando por um momento difícil é sinal de fraqueza, é uma das razões que leva a personagem a esconder dos amigos e familiares a violência sofrida. Ela não quer ser vista como fraca. Outra questão é que a personagem tem várias falhas. Ou seja, ao olhos de uma sociedade machista "não é nenhuma santa", seus atos seriam provavelmente julgados com mais rigor do que o estrupo em si. 



E aí, voltando ao medo do estupro, quando feministas dizem que todo homem é um estuprador em potencial, muita gente entende isso ao pé da letra. Na verdade, algumas feministas estão mesmo falando literalmente, mas Feminismo não é algo uniforme, em que todas pensam da exata mesma forma, além disso, embora eu não concorde, sei que elas tem seus motivos. Na minha opinião, todo homem é um estuprador em potencial, não porque todo homem seja capaz de estuprar, afinal, isso significa dizer que esse comportamento é inerente à natureza masculina, o que tiraria a culpa do estuprador. Todo homem é um estuprador em potencial, porque, simplesmente, estuprador não tem cara, não tem etnia, não tem classe social. Não está escrito na testa.

Elle nos leva nessa paranoia, que não é bem uma paranoia, porque tem fundamentos. Pode abrir os sites de notícias, nem precisa procurar muito. Junto com Michelle, nós vamos desconfiando de praticamente todos os homens que a cercam: seus empregados na empresa, seja o cara agressivo que não aceita bem receber ordem de uma mulher ou outro que nutre um óbvia paixonite pela chefe; o michê de sua mãe, que sabe que ela o despreza; o vizinho bonitão e gentil, talvez gentil demais… até o filho, que demonstrou agressividade em alguns momentos contra a mãe e também contra a esposa.

Assim, o filme traz à tona aquela sensação ruim que nós mulheres conhecemos bem, de pensar duas, três vezes antes de aceitar uma carona, ficar sozinha com um homem desconhecido… Quem nunca criou um marido/ namorado/ pai/ irmão imaginário que está para chegar, para que algum cara não achasse que você estava sozinha? Ou quem nunca sentiu aquele alivio no fundo da alma, quando andava numa rua deserta, ouviu passos atrás de você, mas constatou que era outra mulher? 


Acredito que essa seja a razão da polêmica em torno do filme, ele é incomodo, remete a sentimentos que não são agradáveis, é indigesto. Mas, cinema é arte e arte não existe apenas para nos aprazer, ela existe também para perturbar e nos fazer pensar, e Paul Verhoeven é mestre nisso.

Well, well, well, nem sei se o texto está fazendo algum sentido, escrevi ele num fluxo, meio que randomicamente, porque fiquei pensando nesse filme por um tempo. Bom fim de semana pra vocês :*


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DRI TINOCO

Apaixonada por música, cinema e gatinhos. 

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