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Review - A Grande Aposta (2015)

A Grande Aposta

The Big Short
Direção: Adam McKay
Elenco: Steve Carell, Christian Bale, Ryan Gosling, Marisa Tomei, Rafe Spall, Hamish Linklater, Jeremy Strong, John Magaro, Finn Wittrock, Adepero Oduye, Karen Gillan, Melissa Leo, Brad Pitt.
EUA, 2015



Seguindo com os filmes concorrentes ao Oscar, conferi A Grande Aposta, que tem cinco indicações, incluindo melhor filme e diretor, Adam McKay. Muita gente está elogiando, considerando um dos melhores filmes do ano. Confesso que vou na contramão, não achei ruim, mas esse filme não me pegou.

Inspirado em fatos reais, A Grande Aposta conta a história de parte dos bastidores da crise financeira de 2008, que começou nos Estados Unidos. O filme acompanha personagens que previram a crise eminente e apostaram contra o mercado, tirando lucro disso.

Para contar essa história, repleta de termos do mercado financeiro e jargões técnicos, Mckay conta com montagem ágil, humor e referências pops. A crise de 2008, que como devem saber, se deu porque desde por volta de 2001 o mercado imobiliário dos EUA estava crescendo pra caramba e ter imóveis era não só comprar casa, mas também fazer um investimento. Se comprava e se vendia depois mais caro, tudo com dinheiro de empréstimos.


Uma coisa, que não fica tão nítido no filme, é a responsabilidade do governo desde o início, na eterna parceria com o capital bancário. Toda essa farra ocorreu porque o Federal Reserve (Fed, Banco Central americano) diminuiu os juros, o que seria bom, só que estimulou os empréstimos e financiamentos, levando consumidores e empresas a gastarem ainda mais, assim aumentando a liquidez no mercado e por consequência a especulação financeira mundial.

Assim foi crédito para todo lado, hipotecárias, bancos, financeiras, todos emprestando mais e mais. Não havia qualquer preocupação se quem estava pegando dinheiro emprestado ou financiando imóveis poderia pagar depois. São os subprimes, que aparecem no filme, contratos de risco, clientes sem grana, muitos mutuários que não comprovam renda e já tinham casos de inadimplência. Mesmo assim, com a crença na expansão contínua do mercado, muitos bancos e as demais instituições financeiras adquiriam os créditos dos subprimes e iam passando em frente. Quando os subprimes não pagaram seus empréstimos a crise explodiu. Muitos ficaram sem suas casas e outros ficaram com dívidas até o pescoço. Em um efeito dominó caíram junto com eles a empresa que emprestou o dinheiro e qualquer outra que adquiriu seu crédito.



O preço dos imóveis despenca e os juros altos acabam com as possibilidades de crédito. Oferta maior que a procura, o mercado imobiliário dos EUA em total desvalorização. Diminui o money em circulação, bancos e financeiras abrem falência ou são vendidos. Um dos pontos máximos da crise ocorreu no dia 15 de setembro de 2008, quando o banco Lehman Brothers, quarto maior dos EUA, declarou falência. Assim, o governo estadunidense junto com o Fed passa a intervir para evitar crise maior e dá dinheiro para salvar bancos e hipotecárias, não à população. Mesmo que lentamente o mercado vem se recuperando, as pessoas, porém, o processo é mais sofrido.

E o mundo segue enfrentando os efeitos da crise, cada parte dele sendo afetado de diferentes modos e se recuperando em ritmos diferenciados, como sempre é o desenvolvimento desigual e combinado. O que fica é devemos ir além da briga entre aqueles que são a favor da ausência de regulação da economia e aqueles que querem mais intervenção estatal. É óbvio que a falta de regulação causou a crise, mas quem permitiu a falta de regulação? Não existe essa de que o Estado acabou, como a própria solução encontrada para a crise demonstra, a volta da intervenção. Quando a coisa ficou ruim para os bancos apelaram para o Estado, socializam as perdas, nunca os lucros. O que se percebe é que o poder econômico ora quer menos regulação ora quer mais intervenção. Talvez tenha sido apontar mais diretamente para o governo o que faltou nesse filme.

Voltando ao filme então… Bem, de pontos positivos, as interpretações do elenco como um todo. Christian Bale compõe muito bem seu personagem totalmente avesso às pessoas. É impressionante como ele fica sem mexer o olho esquerdo para fazer o olho de vidro de Michael Burry. Também gostei de muitos diálogos e a narrativa com o elenco falando diretamente com o público, a chamada quebra da quarta parede, foi interessante em vários momentos.

Porém, não curti todo aquele didatismo travestido de humor que o filme apresenta. O humor poderia ter ficado apenas para os diálogos bem escritos por McKay, aquelas cenas com Margot Robbie, Selena Gomez, entre outros, explicando os termos econômicos não eram necessárias e é até cansativo. Outros filmes de temáticas não menos complicadas se fizeram entender sem precisar dessas explicações. Desnecessárias também algumas inserções pops, como aquele pessoal cantando Smell Like Teen Spirit.

Não sei não, mas acho que A Grande Aposta pode surpreender e levar o Oscar de melhor filme. É um filme modernoso com um tema que diz muito para os estadunidenses, para o mundo todo na verdade, mas o que conta para a academia é ser o máximo americano possível. O fato é que não acho que premiariam Inarritu de novo, Mad Max : Estrada da Fúria e Perdido Em Marte não são o tipo de filme que caem nas graças da academia. Então, do que sobra acho que A Grande Aposta se encaixa mais nesse tipo. Vamos ver, posso me enganar.


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DRÉ TINOCO

André Tinoco

Professor de Geografia, cinéfilo nas horas vagas 


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