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Cultura Pop A Rigor na Colab55

Review - Acima das Nuvens (2014)

Acima das Nuvens

Clouds of Sils Maria
Diretor:  Olivier Assayas
Elenco: Juliette Binoche, Kristen Stewart e Chloe Grace Moretz
França/ EUA, 2014

Segunda peguei uma sessão dupla no Cine Arte UFF, com Acima das Nuvens, seguido por Mapa Para as Estrelas. O interessante é que os dois filmes acabam dialogando, já que ambos tratam de estrelas do cinema em decadência, cada filme a seu modo, claro.

Dirigido e roteirizado pelo francês Olivier Assayas, Acima das Nuvens acompanha a atriz consagrada Maria Enders (Juliette Binoche). Em viagem para discursar sobre um prêmio em homenagem ao dramaturgo Wilhelm Melchior,  Maria recebe, no meio do caminho, a notícia de que ele faleceu. Ao mesmo tempo que tenta digerir a perda do artista que a revelou, com a peça Maloja Snake, a atriz lida com um divórcio e propostas de trabalho desinteressantes. Até que surge o convite de  um diretor promissor  (Lars Eidinger), para uma nova montagem de Majola Snake. A peça fala do relacionamento de uma mulher madura e sua manipuladora e jovem assistente. 


No passado, Maria interpretou Sigrid, a jovem, mas agora deve voltar à peça como Helena, a antagonista.  Sigrid será vivida desta vez por Jo-Ann Ellis (Chloe Grace Moretz), uma típica estrelinha adolescente, mais famosa pelos escândalos do que por suas atuações. Para se preparar para o papel, Maria se refugia em Sils Maria, região remota dos Alpes, na casa do escritor falecido. Ajudando-a em cada aspecto de sua vida, está sua assistente pessoal, Valentine (Kristen Stewart).

Através da metalinguagem, o filme aborda o inicio da velhice, ao mostrar o estado de perturbação de Maria ao ter que deixar de lado o papel de jovem livre, para encarnar uma mulher de meia-idade, carente e amarga. A atriz simplesmente despreza a sua personagem, com a mesma intensidade com que ama Sigrid e é apegada às lembranças de sua ascensão, interpretando-a. As fraquezas de Helena a enojam, apenas porque, de certa forma, refletem as suas próprias. Soma-se a isso, ao fato de Maria não entender, muito menos se encaixar nesse universo das celebridades, tabloides e paparazzis.

Outro ponto é o deboche do filme em relação aos blokebusters atuais, com muitos efeitos e pouco conteúdo. Aliás, li em algumas resenhas que o filme menosprezava o cinema-pipoca. Sim, blockbusters aparecem de maneira (talvez exageradamente) caricata (como na ridícula ficção científica protagonizada por Jo-Ann), mas, através do ponto de vista de Valentine, fã de filmes de aventura e super-heróis (com direito a camiseta do Batman), aparece o subtexto que esses filmes podem carregar e que Maria não enxerga de forma alguma. Isso acontece mais para mostrar a inadequação de Maria e sua inaptidão de compreender os mais jovens e se adaptar às mudanças ao seu redor, do que necessariamente para criticar esse tipo de filme. Enfim, os brokebusters surgem como mais um elemento de conflito entre gerações. 


Outro momento em que a visão de mundo da atriz lhe impede de enxergar possibilidades, é quando Maria comenta o final da peça Majola Snake (em que Helena desaparece na névoa) e só consegue entender a morte como única resolução possível, enquanto Valentine acredita em uma dupla interpretação, em que Helena poderia ter partido para recomeçar.

Além de lidar com suas inseguranças, Maria também tem que lidar com as nuances de seu relacionamento com sua assistente, que tem complicações de um relacionamento amoroso, mas nunca é consumado. E nesse momento a peça e a realidade da atriz de misturam. Mas, não, o relacionamento das duas não é como o de Helena e Sigrid. Em determinada parte do filme, o diretor Klaus, ao Maria comentar que não achava Helena interessante, explica que para ele as duas personagens se completavam, como dois momentos de uma mesma mulher. Maria discorda, mas, em sua vida, em alguns momentos, quando revela suas inseguranças (como demonstra ciúmes por Valentine achar Jo-Ann talentosa ou admite, em um abraço, precisar da assistente), ela é Helena, mas em outros, quando é irônica com opiniões da outra sobre filmes e sobre a peça, ela é Singrid. 

O mesmo ocorre com Valentine. Às vezes, ela parece entediada na companhia de Maria e, quando elas fazem a leitura da peça, especialmente das partes sobre a dependência de Helena, as falas de Singrid parecem perfeitas para expressar o que Valentine sente; por outro lado, nas discussões sobre a peça e seus significados, quando Maria demonstra que não considera o ponto de vista dela tão válido quanto o seu, visivelmente Valentine fica magoada e, no fim das contas, é ela quem desaparece na névoa, tal qual Helena.


Cheio de lirismo e introspecção, os pontos altos de acima das nuvens estão nas belas paisagens suíças e na sintonia entre Juliette Binoche e Kristen Stewart. Chloe Grace Moretz, na minha opinião, bastante superestimada por conta do sucesso da sua Hitgirl, fica um tanto aquém das duas, pois sua pseudo Lindsay Lohan soa afetada, mas nada que comprometa o filme. Por outro lado, Kristen Stewart, bastante criticada internet a fora, por conta de seu trabalho na saga Crepúsculo, é precisa em sua interpretação, dando toda a naturalidade e franqueza que a personagem necessita. Mas, como não poderia deixar de ser, o filme é de Juliette Binoche, ótima como sempre, em toda a intensidade de Maria e todas as suas nuances, da gargalhada nos momentos descontraídos com Valentine ao desespero ao não conseguir dizer as falas de sua personagem, passando pela melancolia final, ao aceitar as limitações de sua idade.


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DRI TINOCO

Apaixonada por música, cinema e gatinhos. 

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