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Review – Foxcatcher – Uma História que Chocou o Mundo (2014)

Foxcatcher – Uma História que Chocou o Mundo

Foxcatcher
Direção: Bennett Miller
Elenco: Steve Carell, Channing Tatum, Mark Ruffalo, Vanessa Redgrave e Sienna Miller
EUA, 2014



Dirigido por Bennett Miller (de Capote e O Homem que Mudou o Jogo) e inspirado em fatos reais, Foxcatcher inicia-se acompanhando o solitário lutador de luta greco-romana, Mark Schultz (Chaning Tatum), que se encontra frustrado com as perspectivas de resultado de seu treinamento. Mark treina junto com seu irmão David (Mark Ruffalo), um astro no esporte, muito respeitado pelos colegas e empresários da área. Embora treinem junto e seja óbvio que os irmãos se importam muito um com ouro, é visível o desconforto de Mark junto ao irmão mais velho e mais bem sucedido, sempre tentando manter a distância, evitando conversar.

Surpreendentemente, é Mark quem recebe um convite do milionário da indústria de armamentos, John E. du Pont (Steve Carell), aparentemente, a solução para todos os seus problemas. Du Pont  oferece a Mark a oportunidade de liderar uma equipe de luta grego-romana, receber um bom salário e ainda ter ao seu dispor toda a infraestrutura necessária para seu treinamento na fazenda do ricaço, Foxcatcher.



Logo Mark se fascina por esse mundo diferente, com Du Pont sendo extremamente gentil e, aparentemente, tentando ser seu amigo. Entretanto, através da fotografia fria, da atuação de Carrell, Du Pont já se mostra ao espectador como uma figura incomoda. Soma-se a isso, pequenas atitudes, como escrever e fazer Mark recitar um discurso elogioso ao próprio Du Pont, em uma cerimônia ou pedir que o lutador o chame de “Águia Dourada”, porque “seus amigos o chamam assim”, embora seja claro que ele não tem amigos, apenas bajuladores. Aos poucos também, Du  Pont começa a ficar mais insistente em seu pedido de que Mark convença seu irmão a juntar-se à equipe.




Foxcatcher é um filme sobre frustração. Du Pont pode ser milionário, mas se frustra em sua necessidade de ser reconhecido, principalmente pela mãe (Vanessa Redgrave), uma respeitada criadora de cavalos, que julga que lutas não são um esporte a altura do filho. Sem conseguir tal reconhecimento, Du Pont só se mostra patético, um tipo que comemora a vitória em um campeonato obviamente comprado, que banca o treinador na frente da mãe e das câmeras do documentário que o exalta, colocando seus funcionários em depoimentos forçados, sobre como ele é um ótimo líder para a equipe.

Dessa maneira, Mark acaba sendo o “amigo” que Du Pont necessitava, afinal, ele é uma massagem constante no ego do milionário. Não por interesse, como os empregados da fazenda, mas porque realmente acredita nessa amizade. Mark, apesar de também ser medalhista olímpico, sempre viveu à sombra do irmão, não apenas no esporte, mas também na vida. David é um sujeito dedicado, franco, equilibrado e carismático, um líder nato, que consegue motivar seus colegas de equipe apenas com sua presença. Além do sucesso profissional, ele também está realizado na vida pessoal, com uma bela família. Mark é imensamente dependente da força e do magnetismo de David. Quando ele se afasta do irmão, ele apenas troca essa dependência por outra, a da amizade de Du Pont, muito mais nociva.



David é a antítese de Du Pont. Ele é tudo que este ultimo gostaria de ser, mas não consegue. Quando sua equipe não sai vitoriosa, Du Pont, mostrando que nunca poderia ser um líder como David, desconta sua frustração em Mark, arruinando a pouca autoconfiança que este possuída. Com isso, Du Pont acaba conseguindo seu intento inicial, trazer David Schultz a equipe, através de seu irmão. Entretanto, isso está longe de solucionar os problemas de Du Pont, na verdade, só os agrava, pois este se sente ainda menor; para completar, magoado, Mark o rejeita e retorna à dinâmica anterior, com o irmão. O desequilíbrio emocional e inveja, principalmente, de Du Pont  e, em menor grau, de Mark, levam a tragédia que, de uma madeira ou de outra, arruinou a vida dos três.




O filme é um prato cheio para analises psicológicas, dada a complexidade desses personagens. Complexidade amplamente aproveitada pelo elenco. Steve Carell está irreconhecível como Du Pont, não apenas pelo (excelente) trabalho de maquiagem da produção, mas por sua precisão em compor este tipo patético e repulsivo, a expressão facial sempre inalterada, independente da situação e o irritante falar pausado.

Mark Ruffalo também brilha na linha oposta, seu David é caloroso, é impossível não gostar e se importar com ele, mesmo que você conheça a história que inspira o filme e saiba o seu destino. Por fim, Chaning Tatum. O primeiro filme que assisti com Tatum foi o drama Santos e Demônios, de 2006, em que ele se destaca em um personagem também complexo, de lá para cá, só o vi em atuações medíocres em filmes medíocres, exceto agora por Foxcatcher. Aliás, a linguagem corporal de Tatum e Ruffalo, diz muito sobre as seus personagens. David tem gestos largos, amplos, como se estivesse sempre de braços abertos, enquanto Mark é contido, sempre de cabeça baixa, braços presos ao corpo, como uma tentativa permanente de manter a distância. Em determinada cena, após uma derrota, vemos Mark ser consolado pelo irmão, deitando a cabeça no colo deste, como uma garotinho, ficando bem claro como, na realidade, a personalidade de Mark é infantil e carente.

Melancólico,  Foxcatcher é propositalmente lento, criando uma atmosfera sufocante e fatalista.


Muito se fala na internet de Foxcatcher não é fiel aos acontecimentos reais, que o inspiraram. Até aí, nenhuma novidade. Que filme baseado em fatos reais é exatamente fiel aos acontecimentos? Mesmo sendo baseado em fatos reais, é uma narrativa, uma história, e diretores e roteiristas sempre procuraram um ângulo mais apropriado e tomaram liberdades que deixarão a narrativa mais interessante. Assim, mesmo com essas liberdades, Foxcatcher deve conseguir ser preciso em muitos aspectos, dada as reações dispares que provocou em Mark Schultz. Em seu twitter, sua primeira reação foi raivosa, chamando Bennett Miller de mentiroso e reclamando da insinuação do filme de que seu relacionamento com Du Pont poderia ter traços homoafetivos (a cena em que eles treinam no meio da noite, com o ginásio no escuro).  Contudo, mais tarde, ele pediu desculpas pelas declarações iniciais e passou a elogiar o filme e atores, além de se referir a Miller como “meu irmão”.

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DRI TINOCO

Apaixonada por música, cinema e gatinhos. 

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